Tartarugas marinhas podem desaparecer do litoral da Bahia
Durante milhões de anos elas viveram felizes. Reproduziam-se na costa do Descobrimento, no sul da Bahia, sob as leis da natureza. Mas, nos últimos 15 anos, desde que Porto Seguro virou ponto turístico, as tartarugas marinhas daquela região sobrevivem – como acontece também em outras países – à revelia dos homens. Morrem nas redes dos pescadores. Não encontram um lugar ideal para desovar. E, quando conseguem, seus ninhos são depredados e os ovos, vendidos sob a lenda de curar a impotência ou como afrodisíacos. A ameaça não pára aí. Quando as tartaruguinhas conseguem nascer, elas são atraídas pela iluminação artificial da orla e morrem atropeladas.
Na tentativa de salvar e preservar esses animais que se destacam pela vida que deveria ser tão longa, o ambientalista Paolo Botticelli iniciou, há cinco anos, uma luta árdua. Fundou o Projeto Amiga Tartaruga, uma ONG que incentiva também a pesquisa, proteção e manejo dos ecossistemas costeiros e marinhos, atraindo biólogos da USP e de outras universidades e ecologistas de todo o país. “O nosso trabalho conta com a participação de 170 integrantes”, orgulha-se Botticelli. “São professores, pedagogos, jornalistas, biólogos, técnicos de informática, administradores, comerciantes e pessoas simples da comunidade que aderiram com muita garra e coragem”.
Hoje, esse trabalho – que tem o apoio do Tamar, projeto que desenvolve pesquisas em prol da preservação das tartarugas, e do Ibama – conta com a simpatia da população. Em Porto Seguro, Belmonte, Santa Cruz Cabrália e Prado, as crianças aprendem que garantir a vida das tartarugas e das milhares de espécies de organismos marinhos dos recifes de coral (eles se estendem ao longo de 3 mil quilômetros da costa brasileira, do Maranhão até o sul da Bahia) deve ser uma preocupação diária.
O pessoal do Amiga Tartaruga visita as escolas de toda a região. Também dá palestras para o Corpo de Bombeiros e grupos de pescadores. E nessas andanças consegue ir aumentando, cada vez mais, a legião de voluntários. “Nós ensinamos a população a como proceder quando se depara com os ninhos de tartarugas. O melhor é avisar o nosso projeto imediatamente, que envia pessoas especializadas para marcar o local da desova”, explica Botticelli. “O consumo da carne e dos ovos de tartaruga é considerado crime ambiental. Mas não existe uma fiscalização rigorosa do Ibama e há pessoas que vendem a carne escondida em sacolas de plástico e a estocam em freezer.”
O ambientalista alerta, no entanto, que a carne branquinha que chega aos consumidores pode estar contaminada. “Cerca de 60% das tartarugas-verdes da costa do Descobrimento vêm sofrendo de fibropapilomitose, uma espécie de câncer, que associada à hepatite A, B e salmonela pode transmitir essas doenças ao homem.” (Jusp)
Ao nascer as tartarugas se orientam pela luminosidade ambiental
A partir deste mês, as tartarugas marinhas começam a procurar as praias do litoral baiano para desovar. A equipe da ONG Amiga Tartaruga tenta cuidar das centenas de ninhos. “O período da desova vai até abril”, explica o ambientalista e idealizador da ONG Paolo Botticelli. “Essa região é a área de reprodução da tartaruga-cabeçuda, de pente e, mais raramente, da tartaruga-de-couro, além de ser o local de pastoreio da tartaruga-verde.” São todas espécies em extinção.
Além da preservação dos ninhos, a Amiga Tartaruga já iniciou a troca das lâmpadas na orla norte de Porto Seguro. “Quando as tartarugas nascem, são atraídas pela luz emanada pelo reflexo do mar. Mas, muitas vezes, elas se enganam. Vão em direção à luz artificial das estradas e acabam morrendo atropeladas ou desidratadas”, conta Botticelli. “Por essa razão, estamos fazendo uma campanha contra a fotopoluição, procurando diminuir a potência das lâmpadas, sem prejudicar a iluminação da pista.”
Esse movimento teve a participação do rei Juan Carlos, da Espanha. “Ele intercedeu em nosso favor para que o grupo espanhol Coelba, que atua na região, trocasse também as suas lâmpadas”, conta o ambientalista. “Não sabemos quantas irão sobreviver. Mas aquelas que conseguirem, com certeza, voltarão para desovar no mesmo ponto onde nasceram. É por essa razão que, quando saem dos ovos, elas dão uma volta ao redor do ninho. É uma volta de reconhecimento, para gravar bem o local e um dia retornar.”
Botticelli, italiano de Bolzano, 36 anos, também foi atraído pela luz da costa do Descobrimento. Depois de pesquisar como ecólogo marinho, ambientalista e mergulhador em 45 países, decidiu enfrentar o desafio de ficar em Porto Seguro e lutar pela preservação do local. “Fiquei fascinado pelos recifes de coral, pelas tartarugas, pela mata atlântica. Uma natureza rica que precisa ser estudada e preservada.”
O Projeto Amiga Tartaruga é uma das ONGs pioneiras. Foi na contramão do turismo, orientando que os recifes de corais não deveriam estar abertos a visitação. “Em termos de biodiversidade, eles representam no mar o que o ecossistema da mata atlântica representa no continente.”
Botticelli diz que os recifes do sul da Bahia são reconhecidos como os mais extensos e ricos em fauna e flora do Atlântico Sul. “Eles têm importantes funções ecológicas. Protegem a costa das tempestades, produzem sedimentos que concorrem na formação das lindas praias da região e reciclam os nutrientes, além de dar abrigo a centena de espécies de organismos marinhos.”
Ele reuniu os estudos que desenvolve no livro "O ecossistema dos recifes de coral brasileiros – Conhecer para preservar". A edição ilustrada pode ser solicitada por meio do site www.cidadesimples.com.br/pat ou via e-mail: bahiatropical@portonet.com.br.
Fonte : Projeto Tartaruga Amiga
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